quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Falsas ilusões do momento

Não se justifique porque não se justifica
não rola essa de falar que me ama sendo que não me ama
tão pouco disfarçar uma situação malfadada e precoce
onde os hormônios falam mais alto quando diz que me ama
não me ama, mas quimicamente me deseja
e se confude e me confunde também
e me engana e se engana também
e me trepa, e me malha, me goza inteiro
mas não cuida, não trata, não cicatriza
nem limpa o sangue ou me devolve o sono
ou fala as notas da música ou tira o sutiã
só vejo os olhos, nada mais que os olhos
verdes, esmeraldas, cor de vagem e cheiro de hortelã
loira, loirissima, a água oxigenada encarnada
e é tão bela, ah, é tão bela
e é tão falsa, ah, tão falsa
por falsos amores verdadeiros
em ilusões reais e não concretas
como um silêncio eterno de um canto sublime
e uma nota musical mal posicionada na orquestra
tão bela quanto castelos construídos em solo irregular
tão feia quanto rosas que nascem entre os entulhos
uma amostra singular da química fértil que é a vida
e o erro genético da evolução mal adaptada
não sabe qual o seu motivo, não sabe qual a direção
só conhece o sabor do pão e do açucar de um café
tamborila com uma gaita sonoridades diversas
mas a gaita não foi feita para tamborilar, e isso é ridículo
mas quem sabe também? e por que julgar então?
se não se julga quem sou eu pra fazê-lo
então peço, não me sorria assim
também não me olhe dessa forma encantadora
que esse encanto é falso, o sentido é falso
e o seu sorriso é desprovido de contéudo
porque eu que crio esses sentidos, não você
fazendo das suas razões as minhas, nunca suas
e te torna tão falsa quanto as razões que eu racionalizo, ou anseio
que jeito meigo, que doçura, que encanto
que doidera, que loucura, que besteira
e ainda me dá um toque
"ficou um pedaço de papel na sua testa"
imagine então quando ficar uma alface no meio dos dentes
se mantenha plácida, se abstenha, se mantenha impecável
se não entendeu, cala a boca e fica quieta
que muito belo permanece quem não abre a boca
e se mantém incólume na empolgação da verborragia
ah, mas essa parte se dirige a mim e não a ela
que fala muito e age pouco
e, estupidamente, fica buscando sentidos e mais sentidos
e não existem esses sentidos, só sentidos
que são somente sentidos, que se sentem e não precisam ser entendidos
por isso são sentidos e nada mais
e me escondo através de um intelecto ilusório e narcísico
quando tenho vontade de ser somente estúpido e fútil
e falar sobre coisas estúpidas e fúteis
e ser fútil e estúpido
ah, como ela é bela e preciosa
como é suave, como é senhora de si
como ventos que trazem doces sensações de sonhos improváveis
e músicas tortuosas que inflamam os sentidos materiais
como um banho de sabonete voluptuoso e de sentimentos anti-caspa
onde os movimentos ondulantes distorcem a realidade
e a fumaça dos incensos traçam figuras apaixonadas e mal-definidas
dimensionando todas as cores e brincando como criança
entre desejos que não se concretizam e vivem a mercê das expectativas
em uma paquera inteminável de 15 anos de idade
e na sabedoria da velhice e a placidez que a sabedoria traz
na impaciência do gozo que nunca chega
retraindo os músculos do corpo e ricocheteando na virilha
é dona do momento, da ocasião premeditada
na infantilidade sádica dos iconoclastas
nos concretiza os sonhos e os destrói ao mesmo tempo
e toca os rebanhos, e toca o moinho da vida
desaba e se levanta somente para desabar de novo
para ter que levantar novamente e dar continuidade ao ciclo da existência
ah, como ela é forte, ah, como ela é frágil
como é dona de tudo e ao mesmo tempo não é nada
um conta-gotas no oceano nos milhões dos milênios da vida
como grãos de ouro e de prata que representam os sentimentos
mas não são nem dourados ou de prata e não representam nada
são somente grãos de areia e por isso são importantes
por serem apenas grãos de areia e por isso são coerentes
sinceros e representam tudo
então não me sorria nesse vestido rosa e com os olhos de limão
que, aliás, pensei que fosse um vestido de gala e ocasião
e os limões adocicados e curtidos na vodca
que me tira o sono, a coerência e a lógica
e me torna inquieto, contraditório e sentimental
e fraco, e forte, e tortuoso, e realizado
e perfeito, e falho, e homem, e criança.

2 comentários:

Anônimo disse...

hummmmmm, que coisa mais romantica-sarcastica-meiga-insensível que é essa? ficou muito bom, uniu todos os elementos de cima. bju

Anônimo disse...

eu já deveria saber que vc tá apaixonado. Tá ausente amigo!
QUE BONITINHOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO